sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Não é o que se escreve e sim como se lê





Não existe um modo certo de escrever algo para que as pessoas compreendam aquilo que você quis dizer. Nem falo de imagens. Estas então nos fazem viajar em diversas dimensões. Outro dia vi publicada uma imagem nas redes sociais e total discrepância de interpretações. Esta mesma imagem "viralizou" na internet com afirmações incontestáveis em diversas convicções distintas. E o que dizer das palavras escritas? Estas também são capazes de criar diferentes interpretações do leitor. 
Lembro-me que meu pai costumava contar um tipo de anedota que ilustra bem o que digo. Sei  que  contar escrevendo talvez seja um pouco mais difícil  do que falando ,mas vou tentar:
Um filho que era mantido pelo pai para estudar em outra cidade ficou  sem dinheiro antes do final do mês e passou um telegrama ao pai pedindo auxílio. Nesta época não existiam Smartfones e as comunicações telefônicas eram complicadas pois nem todas as casas tinham telefone fixo e  este era o caso do rapaz que dividia a casa com outros estudantes. Os telegramas eram a maneira mais rápida de passar uma mensagem e é claro o preço era cobrado por número de palavras.
 O telegrama chegou para o pai que após ler  "Mande-me Dinheiro" economicamente escrito pelo filho reagiu agressivamente falando alto pra a mulher que esperava curiosa o teor da mensagem.
- Este menino está cada vez mais arrogante. Onde já se viu ordenar assim para um pai que sustenta seus estudos? MANDE-ME DINHEIRO! Que absurdo! Onde vamos parar com esta falta de respeito?
Ficou vermelho de raiva e as palavras de indignação foram saindo como se cuspisse fogo. Não podia suportar receber ordens assim de um menino ingrato.
A mulher até então calada observando o  marido interrompeu o rompante antes que ele passasse mal
- Mas ele deve estar precisando de dinheiro, Como acha que ele deveria escrever o telegrama?
Muito simples! Ele deveria escrever "pedindo". Aproximou-se da mulher e falou baixinho dando outra entonação: Mande-me Dinheiro.


Então é isso ... Ele leu a ordem arrogante e o correto seria ler o pedido humilde embora as palavras escritas fossem as mesmas





segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Pôr do Sol







Esta foi minha primeira publicação. Eu tinha 12 anos e foi uma alegria enorme ver minha crônica publicada no jornal da minha cidade.Hoje o recorte do jornal está amarelado  afinal já se passaram muitos anos. Então resolvi guardar aqui neste meu espaço virtual e compartilhar com vocês.


Pôr do Sol

Aproveitando na praia meu último dia de férias, um fato aparentemente sem importância chamou-me atenção: um velhinho solitário sentou-se num banco de frente pro mar. Pus-me a observá-lo com uma estranha curiosidade. Sua idade não consegui imaginar, porém na sua expressão serena, refletia lago raro, um sentimento de paz...
O velhinho mergulhado na natureza tinha a pele marcada pelo tempo, mas seus olhos eram vivos e brilhantes que até mesmo dispensavam palavras. Seu cabelo todo branco não negava a experiência e os lábios secos transmitiam uma energia armazenada ainda que pequena.
Nada o incomodava, permanecia apático a tudo e a todos à sua volta. Quando crianças passavam por ele seu rosto se enchia de ternura, mas continuava perdido na música do mar. Por um momento sua fisionomia escureceu, talvez pensasse nos homens acorrentados em seus preconceitos, nos homens máquinas e naqueles que tem um céu coberto de glórias, de guerras e de tédio. Depois percebeu que era livre e que estava muito alheio a tudo isso.
O dia começou a cerrar os olhos. As primeiras sombras traziam a melancolia do sol em declínio e o velhinho não se mexeu. Ninguém compreendia que não precisava gritar para falar e todos esbarravam nele sem o notar. Os que o amaram com certeza teriam pena, os que o odiaram proclamariam vitória e no meio de tanta gente não havia alguém que pudesse entender que o seu olhar buscava mais um pôr do sol e que seu coração ainda esperava o amor.


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A calça justa





Todos conhecem a expressão "saia justa" e sabemos que situações constrangedoras e excêntricas são possíveis, mas o que dizer de uma "calça justa"? Ela também faz história. Vejamos!
Família tradicional mineira, pai advogado, mãe dona de casa, seis filhos sendo cinco mulheres.  As compras da casa mais pareciam por atacado do que a varejo e a mãe apelava para a praticidade usando sua incomum criatividade, Não era surpresa no Natal o bom velhinho deixar para as meninas bonecas iguais compradas numa promoção de uma cooperativa, afinal Papai Noel não queria brigas entre as irmãs dizia a mãe tentando amenizar o desapontamento das filhas. Outras coisas como material escolar e roupas tinham alguma variação quanto a cor e tamanho , mas sempre da mesma marca e modelo. O corte de cabelo das meninas em estilo "Melindrosa" era também marca registrada da prole feminina, embora a mais velha um dia aos prantos quis pular do alto da ponte do rio que cortava a cidade quando voltava do salão.
Era comum também receber vendedores em casa, trazendo todo tipo de mercadoria: perfumes, bijuterias e roupas. E um deles trouxe da Itália o famoso jeans Fiorucci . As meninas já eram em sua maioria universitárias, com sonhos de consumo diferentes, mas ele conseguiu vender para a família diversos tamanhos do então lançamento da marca italiana.
- Mãe, só tinha este modelo?
- Que bobagem! Calça "jeans" é tudo igual ! Muita sorte encontrar para todas.
Como uma das meninas estudava na Universidade Santa Úrsula no Rio de Janeiro e a distância da cidade mineira não permitia idas e vindas diárias a solução foi alugar um quarto no internato do Colégio Sion que era controlado por freiras. O pai assim ficou mais tranquilo, pois a filha estaria protegida por mãos santas naquela cidade tão sedutora para o pecado. Porém a garota tinha um namorado típico carioca morador de Ipanema. O rapaz era surfista, sarado e transgressor embora filho de um militar criado na rígida disciplina. Tanta rigidez e vigilância não superaram ao fogo que nos traz ao mundo. Eles driblavam a todos e sabiam como fazer para fazer. Os dias assim foram passando. Durante a semana estudos e aventuras. Nos fim de semana família e paz. 
Nos fins de semana ela trazia a roupa suja para ser lavada em casa e voltava portando junto aos mimos de mineiros( doces e queijos) toda a roupa lavada, passada e perfumada, cheirando carinho de mãe, mas um dia levou a calça Fiorucci da irmã mais magrinha que embora fosse muito organizada não percebeu o engano e daí a confusão em torno da calça justa.
A garota estava com a menstruação atrasada e quando vestiu a calça jeans da irmã não teve dúvida:
Meu Deus! Estou grávida mesmo!
O próximo fim de semana em família foi marcado por uma reunião solene . Ela e o namorado comunicaram a todos o que tinha acontecido. Enquanto o pai se refazia do susto a mãe, sempre muito a frente, já contabilizava mentalmente o número de convidados para a festa do casamento, a roupa de todos e até o enxovalzinho do bebê.
O desfecho foi naturalmente o primeiro casamento daquela família, em grande estilo com cerimônia religiosa e festa, mas no meio de tantos arranjos e preparativos ninguém se preocupou em confirmar a gravidez, nem ao menos o teste de farmácia foi feito. Quando os exames pré-nupcial e pré-natal foram realizados simultaneamente quase as vésperas do matrimônio é que a verdade veio a tona. Ela não estava grávida. Era apenas um problema hormonal muito comum em mulheres jovens. Mas a esta altura, com tudo acertado e com o fato da perda da virgindade da filha do advogado assim exposto de boca em boca na pequena cidade a melhor solução foi dar continuidade ao evento. Ela se casou com muita pompa e alegria. Desta vez as filhas escolheram os vestidos e não foram damas com roupas iguais.
 E todos foram felizes para sempre?  Bom , isto já é outra história...



sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O valor do feminino









Lado Feminino X Lado Masculino


Não se trata das característica de homens e mulheres. Trata-se do lado feminino e masculino presente nos relacionamentos. É verdade que muitas atitudes do  lado feminino estão vinculados à mulher e do lado masculino ao homem, mas a minha observação é para a porção de razão e sensibilidade distribuídos em cada lado.
Em qualquer relacionamento, seja ele hétero, bi ou homosexual , há sempre um lado feminino e o outro masculino  em cada pessoa regendo determinadas atitudes.
Descobrir o que somos e como somos nos relacionamentos seria uma boa forma de evitar atritos e decepções. Vale lembrar que temos a tendência de repetir os comportamentos independentes das outras pessoas, ou seja, acabamos por atrair os mesmos tipos de relacionamentos para vivenciarmos o mesmo padrão.
O que é melhor,  ser feminino ou masculino?
Acho que nunca teremos a resposta ainda que tenhamos a real dimensão da porção feminina ou masculina que habita em nossa alma.



Escrevi este texto há um tempo atrás no meu antigo blog e recentemente  vi uma série de depoimentos produzida pela Molico onde homens e mulheres contam histórias mostrando que o feminino não é uma questão de gênero e sim de humanidade. Emocionante!








quinta-feira, 21 de julho de 2016

@frodite.com



@frodite.com



@frodite.com  fala da trajetória de uma mulher madura que encontra na internet a ponte para muitas experiências de vida.
Extraídas de um mundo virtual as histórias se tornam reais e transportam Lara, sua personagem central, para um mundo mágico, onde ela deixa aflorar o potencial da mitológica Deusa da beleza, do sexo e do amor.
@frodite.com retrata também as diversas formas de amor e suas fases, contrastando relatos de dor e de humor, de relacionamentos efêmeros e profundos.




"Eu bebia os fragmentos da vida com a sede dos desertos. Por isso tudo era tão intenso, irresistivelmente tocante. Eu podia ainda senti-lo nos meus braços, mas não estava mais a sua espera. Assim era meu destino. A volúpia de tudo num momento. A aridez do nada logo em seguida..." (@frodite.com)









Queda







Este poema faz parte  do  meu livro @frodite.com  no capítulo  A Paixão, O  Amor  e O  Abismo






Queda

A tarde começou a cair de mansinho
O vento varria folhas caídas
Silêncio...
Uma lágrima caiu de repente
Vazio...
Senti meu coração cair aos pedaços
Noite...
Olhei a estrela cadente
Esperança?
Meu corpo caiu na cama desfeita
























segunda-feira, 11 de julho de 2016

"Café da Ciça" e a ausência da Sandra





Em setembro vai fazer um ano que ela não está entre nossas risadas, reflexões, discussões políticas , brincadeiras e confissões e sem falar na  degustação de diversos sabores que a cada encontro nos proporcionam um gosto de quero mais. Ela fazia parte do Café da Ciça.
O café da Ciça ou Cimeira do Café da Ciça ( muito chique estas meninas! eu não sabia que  cimeira  significa encontro, termo muito empregado em Portugal) surgiu para mim em um momento que me sentia muito sozinha e procurei uma das integrantes, aliás, a Ciça, que levou a fama do café. Fomos colegas de trabalho no Banco do Brasil e é claro, fomos separadas pelas circunstancias da vida,mas sempre mantivemos acesa a chama da amizade.
Bem, nesta época  atendendo meu pedido de socorro ela me falou que algumas colegas estavam animadas com uma reunião mensal que ela fazia em sua casa ( a maior parte das integrantes  havia trabalhado no Banco e aderido ao plano de Demissão Voluntária) e assim também comecei a participar.
Lembro-me que a primeira vez que deixei sua casa depois do encontro, carreguei uma alegria infantil indescritível porque fazia muito tempo que eu não ria de modo a dar dor na barriga. 
Lá encontrei algumas colegas que tive o prazer de trabalhar, outras que faziam parte do grupo mesmo com outras atividades profissionais e outra que nem conhecia bem, mas que fazia parte da minha árvore genealógica. Integrante do grupo também a filha da Ciça, uma garota adorável regulando em idade com meus filhos que além de ser muito inteligente e educada também possui uma doçura e maturidade rara , qualidades estas que lhe dão  condições de suportar  a falação e maluquice das amigas da mãe. 
E revi a Sandra, uma pessoa única no estilo de vida e personalidade. 
Quando trabalhamos juntas eu era a mais nova do grupo e ela imediatamente assumiu a postura de irmã mais velha, tomando conta das minhas investidas sentimentais, verificando se os pretendentes eram bons o bastante. Em uma viagem de férias no litoral paulista ela se tornou a minha consciência e eu não conseguia fazer nada transgressor já imaginando a cara de reprovação da Sandra. Ela espiculava tudo, palavras como Quem, Onde, Quando e Por Que estavam sempre presentes nas suas incansáveis perguntas e talvez por isso ela sabia de tudo. Era vaidosa, tinha um ar inglês com os cabelos ruivos, o porte grande e sardas, e os seus lábios estavam sempre coloridos. Tinha uma voz e uma risada daquelas  pessoas que nos passam confiança:  forte, poderosa, sem máscaras.
Ela morou na Inglaterra um tempo e seus caminhos foram percorridos com fé numa religião que adotou como prioridade. Ela foi muito amada por todos seus irmãos cristãos. Também havia uma outra característica marcante no seu jeito de ser- ela que brigou anos com a balança- tinha também aquele orgulho de se controlar numa mesa cheia de "gordices".  E estava sempre falando da eficácia de algum produto natural ou alguma dieta fantástica.  
Caso soubéssemos que ela partiria tão cedo talvez incentivássemos a não se privar tanto. Eu digo talvez  porque eu nunca precisei fazer dieta -por fatores genéticos sempre fui muito magra -e sinceramente eu não sei o que a deixaria mais feliz , se afundar o "pé na Jaca" ou resistir. 
De qualquer forma sentimos sua falta  e em todas as reuniões sua memória como pessoa única e amiga admirável continua a fazer parte dos nossos encontros do Café da Ciça.

"Naquela mesa tá faltando ela  e a saudade dela tá doendo em nós"







quarta-feira, 6 de julho de 2016

Sons e Silêncio da "Casa do Piano"







Aquela era a "casa do piano" Seu som era ouvido à distância, sempre...
Nos dias de sol atraia os passarinhos para as suas janelas. Nas noites chuvosas era um amigo consolador.
Ninguém questionava se os sons eram vibrantes, ternos ou enigmáticos. O maior significado era a existência da música. Tudo era rodeado de tons.
O tempo passou . Muitas coisas mudaram. Algumas pessoas se foram e outras chegaram.
O piano também foi submetido às mudanças. Não ocupava mais o lugar de destaque da casa. Ficava encostado em algum canto para não atrapalhar a passagem das pessoas ou a decoração mais moderna dos ambientes. De vez em quando surgia um som desafinado ou desarmônico provocado por crianças curiosas que afundavam seus dedos no teclado.
A casa se transformou na " casa do silêncio"
Ninguém questionava se o silêncio era para o repouso. monótono ou opressor. O maior significado era a inexistência de rumores. Tudo era cercado do nada.
O tempo vai passar. Algumas pessoas vão partir e outras vão chegar e novamente muitas coisas podem mudar...







terça-feira, 17 de maio de 2016

Que belo hardware!!



























Outro dia, em plena atividade nas redes sociais, fui abordada por um indiano falando português. Nossas conversas sempre foram em inglês então fiquei surpresa com sua fluência repentina na nossa complexa língua. Evidentemente existiam inconsistências na conjugação verbal e em algumas construções gramaticais, mas erros perfeitamente perdoáveis supondo vir de um estrangeiro.
No meio da conversa uma frase de efeito:
- Que belo "hardware"! Estou vendo seu perfil
Achei estranho a principio, mas a ficha começou a cair. Ele provavelmente estava usando um tradutor on line.
Perguntei-lhe:
-Você está usando o tradutor Google?
Ele demorou a responder, mas foi sincero:
- Sim , uso este tradutor . É mais fácil comunicar.
A facilidade do tradutor complicou tudo. Pensei em responder com uma brincadeira informando que meu "software" estava com problemas,  mas preferi não arriscar, pois provavelmente a resposta seria submetida ao tradutor. Não podemos confiar nestas traduções da internet. Ele talvez encontrasse na tradução que eu estava louca.










terça-feira, 10 de maio de 2016

Livro " Cuore Nello Zucchero"










Cuore Nello Zucchero é a história de um relacionamento de um músico italiano e uma escritora brasileira. Um relato da vida na Itália, entre idas e vindas, de uma personagem corajosa que não media esforços para realizar seus sonhos e viver seu grande amor. Uma descrição apaixonada da bela península com suas cores e sabores em visitas a lugares históricos e extraordinários como Florença, Veneza, Nápoles e região de Marche que é banhada pelo Mar Adriático e algumas impressões de outros países europeus. Narração de episódios da vida do músico dentro da própria história do seu romance, sua vinda ao Brasil pela primeira vez e peculiaridades da sua vida musical na Itália. Paralelos entre os dois países, vivências e reflexões sobre o ciclo de começo, meio e fim de uma paixão entre pessoas separadas geograficamente por um oceano e acima de tudo a descoberta de um amor imensurável pela Itália representada principalmente por Nápoles.


O livro já está disponível para compra no site da Editora Multifoco:

http://editoramultifoco.com.br/loja/product/cuore-nello-zucchero/


terça-feira, 26 de abril de 2016

A árvore






Tanta coisa se pode falar da árvore. Da sua importância capital para preservação  do meio ambiente à exaltação da sua beleza na diversidade que se apresenta. E não é só isso.  A árvore está presente em poemas , na música, nas pinturas, fotos, filmes e documentários. Árvores seculares e gigantescas encantam da mesma forma que árvores bonsai de diversas espécies. Árvores exóticas , árvores fortes, frutíferas, e árvores  de flores frágeis como as das cerejeiras e ipês  que uma vez por ano e por pouco tempo nos fornecem um espetáculo de cores. 

Alguns acreditam que quando tocamos ou abraçamos uma árvore há uma troca de energia capaz de nos fortalecer espiritualmente. Não sei se isto é verdade, mas a árvore tem um simbolismo forte na minha vida. Algo intimista mesmo. E  meu olhar interno é para a árvore que me ensina a viver . Explico melhor: em todos os lugares que morei ( inclusive onde moro hoje) sempre tive a oportunidade de abrir a janela do meu quarto e contemplar uma árvore. Grande ou pequena , no inverno ou no verão, solitária ou em grupo observava  seus ciclos, o enfrentamento de todas as oscilações climáticas e  ações humanas, crescendo, sobrevivendo ,envelhecendo ou morrendo.As respostas são naturais e não há como negar sua essência.

 Fico pensando que somos desde pequenos doutrinados na direção contrária à nossa natureza. Temos que nos comportar de acordo com as condições sociais e nossos ciclos não são respeitados. Temos que agir artificialmente e assim nos tornamos quando seguimos os padrões sem contestar. Por que precisamos formar uma floresta de árvores que devem esconder seu florescimento, fingir que não há tempo de recolhimento, ignorar a beleza do desapego das folhas secas, tentar neutralizar os abalos das tempestades e  o pior não reconhecer a diversidade como algo maravilhoso e divino? Não há sentido para mim. As árvores me ensinam que devo revelar  aquilo que sou em qualquer tempo ou lugar independente do que possa acontecer. 






Telas de Van Gogh 










"Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio."  ( Kahlil Gibran) 








Velhas Árvores  ( Olavo Bilac)

Olha estas velhas árvores, mais belas 
Do que as árvores novas, mais amigas: 
Tanto mais belas quanto mais antigas, 
Vencedoras da idade e das procelas... 

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas 
Vivem, livres de fomes e fadigas; 
E em seus galhos abrigam-se as cantigas 
E os amores das aves tagarelas. 

Não choremos, amigo, a mocidade! 
Envelheçamos rindo! envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem: 

Na glória da alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem! 



terça-feira, 12 de abril de 2016

Aos Mestres com carinho




E quando o Mestre é nada mais nada menos que seu filho? E quando os Mestres são nada mais nada menos que seus filhos?

Neste mês de abril meus filhos receberam o título de Mestre em Linguística na renomada UNICAMP e não satisfeitos já estão nas ondas do Doutorado da mesma universidade.
Peito estufado de orgulho é pouco e lágrimas de emoção são recorrentes .Tudo em dose dupla!

Eu me sinto uma pessoa abençoada e muito feliz. Impossível não entrar no túnel do tempo e ver as duas joias que vieram para me ensinar. Como eu não percebi que seriam Mestres?

Aqueles olhinhos expressivos da Karine que continham uma enciclopédia dentro. Aquela energia do Thales que desorientavam todas as pessoas que tentavam protegê-lo de suas impulsividades em busca do conhecimento. Como eu não imaginei que seriam Mestres?

Suas imagens desfilam na minha mente. Imagem dos bebês que me fizeram apavorada pelo medo da perda com tantas ameaças -grandes e pequenas- acidentes ou um simples inseto que poderia transmitir tanta coisa ruim. Imagens das crianças que me fizeram sorrir ou ficar aborrecida com as incansáveis traquinagens  (sinto-me tão estranha falando "traquinagens"- talvez eles saibam me dizer com propriedade por que me sinto assim?) . Imagens dos adolescentes que exibiam suas personalidades com roupas e atitudes próprias mesmo sob o foco das críticas muitas vezes destrutivas ( é verdade! os invejosos criticam em nome da virtude). Incontáveis imagens  e recordações  me mostram claramente o quanto aprendi com eles. Como eu não percebi que seriam Mestres?

 Hoje os  adultos que enfrentaram todos os obstáculos físicos e emocionais para obtenção deste título continuam a me ensinar e me deram a convicção que além de Mestres conquistarão muitos outros títulos. Muito embora tenham me agradecido em suas dissertações a privilegiada sou eu e derramo minha gratidão nestas poucas palavras: Obrigada meus Mestres!

Para terminar quero dizer a Karine que aquelas medalhas que ganhei na minha trajetória escolar que ela tanto queria receber na sua escola para mostrar o seu valor perderam o seu significado diante do título e do brilho que hoje ela possui. Ao Thales  devo dizer que as suas lúcidas contestações das minhas insanas abstrações deixaram as marcas da sua grande capacidade de analisar não só o jogo nas regras ou sobre as regras, mas o jogo da vida.



terça-feira, 5 de abril de 2016

Eu e Você




Somos corpo e alma vivendo em paralelas...

Eu acordo e continuo a sonhar, você abre os olhos e começa a calcular.

Eu penso em como flutuar nas horas do meu dia. Você trabalha nas suas com todo o peso acumulado.

Minha caneta faz versos e a sua assina projetos.

Eu espero a noite para dançar. Você corre o dia para descansar.

Enquanto aperto o laço das minhas sapatilhas você desata o nó da sua gravata. É o momento  que  eu tenho você  no meu coração. É o momento que você libera a sua mente para o esquecimento.

Mesmo assim houve um encontro mágico entre nós.
 Era o infinito...



segunda-feira, 4 de abril de 2016

Por que ele não ligou?


Uma amiga se encontrava naquela situação tão comum hoje em dia. Depois de um fim de semana romântico e sexual com um homem que antes do encontro fazia do telefone sua principal arma de sedução com ligações inesperadas e mensagens absolutamente únicas, viu seu celular emudecer,
Não foi difícil imaginar que ela não desgrudou do celular e que sua mente foi invadida por mil perguntas sem respostas. Na verdade havia se passado pouco tempo, mas cinco minutos no "day after"podem representar uma eternidade quando há a expectativa de pelo menos um "bom dia querida". De qualquer forma meu papel era de uma amiga que não deveria exasperá-la e sim confortá-la. Então me lembrei de uma história que me aconteceu.
Conheci na Internet um comissário de voo nacional que além de muito educado tinha uma foto muito linda no perfil. Conversa vai, conversa vem, trocamos fotos e telefone. A partir daí recebia telefonemas e mensagens todos os dias. Cada dia de um lugar diferente. De norte a sul do Brasil era gostoso receber seu carinho sem hora marcada, até mesmo de madrugada quando eu atendia suas chamadas com o coração acelerado por ser despertada de repente. Foram quase oito meses assim...
Eu estava esperando suas férias para  nos encontrarmos e quando elas chegaram vieram também imprevistos de todo tipo que  se colocaram no nosso caminho para impedir tudo. O fato é que vi o período acabando e nada do tão esperado encontro,Por coincidência nesta mesma época o contato foi rareando até que acabou sem aviso prévio. No último mês antes do seu desaparecimento havia deletado seu perfil nas redes sociais por clonagem,  havia também perdido o celular e trocado o número e era sempre ele que ligava com um número não identificado. Portanto não sabia como encontrá-lo nem mesmo no mundo virtual e sua ausência era tão misteriosa quanto sua presença meses antes. Porém não existem crimes sem vestígios e como dizia meu falecido pai contando casos de tribunais muitos criminosos são em sua maioria reincidentes. 
Alguns meses depois ele me ligou tentando reativar a antiga amizade,mas não conseguiu me enganar porque antes eu descobri quem ele era. Seu e-mail ficou gravado nos meus contatos e um dia por acaso permiti a utilização de uma ferramenta de um aplicativo para buscar amigos através do endereço eletrônico e apareceu no seu endereço de e-mail uma pessoa completamente diferente daquela que conheci anteriormente. Ele não era bonito, nem tinha aquele físico escultural e muito menos era  comissário de bordo. Pasmem! Ele era um advogado criminalista da região Norte. Depois pesquisei seu verdadeiro nome no Google e tinha muita informação dele lá.  Jamais seria possível encontrar o belo comissário pelo simples fato dele não existir, Meu comissário de voo era uma história inventada com fotos roubadas. Na verdade sempre estranhei o fato de inexistirem fotos dele  com o uniforme da empresa, sozinho ou em grupo , mas ele sempre me falava da rotina dos tripulantes com tanta riqueza de detalhes inclusive me adiantando notícias do meio muito antes de aparecerem na mídia, que era impossível duvidar que  ele não era sincero. Foi uma descoberta que me deixou sem chão, ou melhor, numa queda de  um avião sem paraquedas.
Daí meus questionamentos para minha amiga: O que é melhor? Não receber telefonemas de uma pessoa que você sabe que existe ou receber muitas ligações de uma pessoa que não existe? E o que é pior? Não saber o porquê da pessoa real ou saber o porquê da imaginária?

quarta-feira, 30 de março de 2016

Três tempos de Mina


Mina é minha cachorrinha poodle de 12 anos . Ela é minha filhinha caçula que não vai crescer nunca.Quem possui animais sabe o que é ser amado de verdade e eu concordo plenamente com uma definição que li há muito tempo atrás: " Alguns anjos não possuem asas. Possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência. Apesar dessa aparência são tão anjos quanto os outros( aqueles com asas) e se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão."

E por que três tempos de Mina? Bom, na verdade são três textos dedicados a ela. O primeiro escrito em 2007 antes do seu quarto aniversário, o segundo de 2013 quando estava morando na Itália e bateu uma saudade enorme e o terceiro da atualidade quando adotei dois gatos que foram abandonados por uma mulher sem coração que se mudou da vizinhança .


I
4 ANOS


Mina vai fazer 4 aninhos dia 21/10/2007. Muitas imagens e depoimentos reforçam o sentimento imensurável que somos capazes de nutrir quando mergulhamos no universo apaixonante de um cão. Símbolo de fidelidade incondicional e instrumento de aprendizado de vida, muitas vezes são o passaporte de nossas escolhas.
Mina chegou bagunçando minha casa, meus hábitos e minhas idéias. Era tão pequena que fez do meu chinelo sua segunda cama. Desde o primeiro instante adorei aqueles olhinhos brilhantes e me rendi ao choramingo que todo filhote transmite: cuida de mim! Cuidei dela...
Sem que eu percebesse ela foi se chegando cada vez mais. Seguia meus passos, me observava com atenção. O tempo foi passando... Assim como a gente ela foi criando suas manias, demonstrando suas preferências, alegrando e irritando as pessoas. No seio da família estava lá nos bons e maus momentos, sempre compartilhando... Lambe minhas lágrimas e pula comigo nas horas de alegria. Também faz pirraças, mas sempre se aconchega no meu corpo para dormir. E qualquer que seja o estado que eu chegue em casa sou recepcionada como uma rainha.
Mina é realmente minha mina porque ilumina com preciosidade o amor que possuo.
Um grande amigo me disse que "algumas alminhas" nos são destinadas. É verdade. Ela não veio do acaso e sim para me ensinar a amar melhor,


II

 Tão longe eu declaro o meu amor por você todos os dias





Eu declaro meu amor a você todos os dias. Em todos os atos cotidianos e nos pensamentos mais distantes.
Agora mesmo, tão longe, eu sei que você pode me sentir. É talvez a única energia que não se modifica com o tempo. Eu sinto falta de seus olhinhos brilhantes me acariciando. Sinto falta da sua presença que acompanha todos os meus movimentos e adivinha meus temores mais secretos e minhas alegrias mais infantis.
Eu declaro meu amor a você todos os dias. Em todas as cores que vejo, em todos os cheiros que sinto , em todos os sabores que provo.
Agora mesmo, tão longe, eu sinto que você sabe tudo. Eu sinto falta de acariciar teu corpinho que deixa meus olhos brilhantes de ternura. Eu sinto falta de seguir seus movimentos e adivinhar seus temores e suas inocentes alegrias.

Tão longe eu declaro o meu amor por você todos os dias...



III 
Reflexões de Mina
















Meu nome é Mina. Sou uma cadela Poodle miniatura de 12 anos com a belíssima cor Apricot, cor champagne como consta na minha ficha veterinária.
Meu nome não é uma homenagem a cantora italiana Mina, também não é por causa das Minas Gerais ou de qualquer mina d`água ou mina de ouro e tão pouco por aquele modo diferente de se chamar uma garota como naquela canção dos “Mamonas Assassinas” (“Mina, seus cabelos è da hora”). Sou Mina por causa de uma das principais personagens do romance Drácula de Bram Stoker, quase uma vampira...
Resolvi contar minha história por vários motivos, mas principalmente porque fui surpreendida nesta fase da minha vida com a vinda de dois gatos adotados por minha mãe, minha dona amada a quem dedico toda a minha fidelidade.
Outro motivo importante para escrever é o fato de querer registar meus sentimentos. Minha mãe sempre diz que devemos fotografar nosso corpo e nossa alma. Ela faz muitas fotos e escreve tudo o que sente. Diz que assim nossa existência será lembrada.
 Eu não sou o primeiro animal que conta sua história. Flush, um  cocker spaniel, com a ajuda de Virginia Woolf narrou toda a sua vida ao lado da poetisa Elizabeth Barret Browning e há também figuras famosas como o gato Garfield e o cachorro Snoopy que estão em jornais, filmes e mensagens das redes sociais, aliás, existem também alguns animais blogueiros como o gato  Chico do blog “Cansei de ser Gato”.
Bem, minha intenção não é a fama, embora nossa raça seja sempre ligada à França e às mulheres sofisticadas e importantes. Quem não viu nossa representação nos braços da atriz de Hollywood, Kirsten Dunst quando encenava Maria Antonieta? Realmente somos muito chiques, mas antes que pudessem me contestar pesquisei minha origem e sei que meus ancestrais foram cães de pelo enrolado da Àsia que ajudavam no pastoreio e que imigraram para várias partes da Europa. Dizem que o Poodle seja o mais antigo Barbet, um cão de pelo enrolado que se espalhou pela França. Rússia, Hungria e outros lugares, mas que foi a partir da Alemanha que nos tornamos famosos e populares no mundo todo. Poodle vem da palavra alemã “Pfudel” que significa “poça d’àgua ou espalhar águas” que traduziam nossas habilidades na água, pois na França éramos também caçadores de patos antes de sermos adestrados em circos e tosados com aqueles pon pons nos pés que deixam constrangidos todos nossos companheiros machos.
Minha vida mudou no aniversário da filha da minha dona quando eu ainda era um bebê. Fui o presente dela pelos seus dezoito anos. Meu pai que naquela época ainda era marido da minha mãe me escolheu no meio de dois irmãozinhos machos e brancos que me ignoravam e me rejeitavam em suas brincadeiras. Fiquei escondida no banheiro de um clube, local da festa, até o momento de ser entregue como surpresa a minha suposta dona. Porém, algumas horas antes, minha mãe apareceu para me conhecer. Veio linda, perfumada, de vestido vermelho e falando palavras carinhosas. Ela me pegou no colo e me acariciou de um jeito que imediatamente percebi que a amaria para sempre e assim eu a escolhi.
 Milhões de coisas me aconteceram nestes anos que passamos juntas: mudamos diversas vezes, de casas e de cidades, choramos de tristeza e de alegria, passamos por altos e baixos financeiros, viajamos de carro e de ônibus e eu nunca entendi porque minha mãe não me levou para viajar de avião quando ela foi para Itália e eu tive que superar meses de sua ausência e o pior que não foi só uma vez, aliás,  detesto quando ela pega aquela mala vermelha e começa acomodar suas roupas e acessórios. De qualquer forma aproveitei para entrar na rotina dos meus irmãos que acordavam ao meio dia e passavam a madrugada estudando. A propósito, sou muito culta. Além de ser poliglota e entender português, inglês e italiano por causa de minha mãe, sei tudo sobre Foucault, Pêcheux, Deleuze, Saussure, Bloomfield, Chomsky, Freud, Lacan e tantos outros por causa dos meus irmãos que agora fazem doutorado em linguística. Tudo isso não me importa muito, pois o que gosto mesmo é de dormir depois de um bom sachet de frango misturado na minha ração e ser muito paparicada por todo mundo. Lembro-me como fui tão bem tratada quando tive que ser operada de emergência por causa de uma infecção uterina e mesmo sofrendo fiquei feliz porque senti como todos me amavam naquela casa, inclusive um amigo de meu irmão que chorou quando me viu toda costurada um dia depois da cirurgia. As coisas que não gosto todo mundo sabe: tomar banho no Pet e voltar com lacinhos grudados na minha orelha e de ter meu amor ameaçado por pessoas estranhas como namorados de minha mãe por exemplo. Também não gosto de dividir a cama de minha mãe com ninguém, nem mesmo com meus irmãos. Quando sou contrariada faço xixi na casa toda inclusive embaixo de uma mesa de centro da sala para dificultar a limpeza. Deixando estes pequenos defeitos de lado, sou muito meiga e carinhosa.
Bem, mas voltando aos últimos acontecimentos eu me pergunto a todo instante por que logo agora que meus irmãos não moram mais com minha mãe eu não tenho o direito de ser a filha única? Não sei o que fiz de errado para ter que dividir a atenção de minha mãe com esses “lindos gatos” (comentários de terceiros dos quais não compartilho). Que culpa tenho eu de uma desumana ter abandonado estas criaturas que pensam que podem seguir minha mãe pela casa, vasculhar cada canto pulando em tudo e inclusive terem a audácia de mexer nas minhas coisas, digo nos meus brinquedos que estão na minha caminha que eventualmente uso. É um absurdo! Sinto-me indignada e demonstro claramente meu desprazer quando eles se aproximam de mim ou ficam se esfregando nas pernas de minha mãe... Onde já se viu?

Eu sei que eles não são malvados porque hoje mesmo na varanda ficamos os três tomando um pouco de sol e nenhum deles me deu uma patada, mas a situação está difícil de engolir. Talvez com o tempo eu me acostume com esta ideia, não sei dizer. O que posso dizer agora é que minha história não acabou e só posso repetir uma daquelas frases que os humanos adoram falar diante das coisas inesperadas: “Quando a gente pensa que já viu tudo nesta vida...” 

sábado, 26 de março de 2016

Eu... Contrastes...


O mundo é cheio de contrastes. A vida é feita de contrastes... Se há muita luz ficamos cegos, se há só sombra nada vemos. Poucas palavras nada esclarece, mas muitas delas nos deixam perdidos. A perfeição deve estar na arte de equilibrar os contrastes.
Eu me pergunto ás vezes o que sou, quem sou? Vivo entre picos de altos e baixos: vejo a esperança na decepção, ouço o silêncio na tempestade, toco a louca coragem confrontando meus lúcidos medos, experimento o gosto da saudade no calor da emoção presente, sinto o cheiro da primavera no inverno.
Respiro fantasias no dia a dia. Caminho sutilmente na dura realidade. Escondo minha transparência e exibo meu mistério.
Não sei se estou no começo ou no fim. Sei que não sou equilíbrio. Não sou perfeita. Sou contrastes...