Só de raiva
vou comer uma banana!
Ela foi uma
das inúmeras pessoas que trabalharam para minha mãe. Vou chamá-la de Maria. Chegava cedo, lavava, passava e arrumava a casa, mas tinha
uma fome que não dominava e tinha uma predileção por bananas.
Bananas
fizeram parte da minha infância. Família grande e com muitas crianças para engordar e fazer crescer. Quando havia qualquer rejeição lá vinha meu pai
cantando aquela musiquinha:
" Yes, nós temos bananas
Bananas pra dar e vender
Banana menina
Tem vitamina
Banana engorda e faz crescer"
Aliás, morei numa casa que no quintal tinha um pé de
banana ouro. Quando frutificava era uma alegria. Eram bem pequenas. Comíamos
sem tirar a casca apertando o conteúdo que saía direto do orifício para nossa
boca e depois com sopro forte enchíamos as bananinhas que ficavam “quase”
perfeitas, mas conseguíamos enganar algumas pessoas oferecendo as bananas de
vento.
As bananas,
de todo o tipo, viviam penduradas nas fruteiras da minha casa. Verdes, no ponto
ou muito maduras marcavam presença de domingo a domingo. Lembro-me do barulho
do liquidificador anunciando uma vitamina de banana com aveia ou o cheiro do
pastel de banana com canela misturado com o café passado na hora que era um convite
para uma pausa dos estudos.Banana amassada com farinha láctea, Torta de Banana
com Suspiro para os dias especiais, Cuca de banana para o lanche da tarde ou Banana com Paçoca de Amendoim são lembranças que vem à tona quando vejo um belo
cacho de bananas. Sem falar na famosa Banana Split que era consumida depois do cinema de domingo na lanchonete mais famosa da minha cidade. Eu amava o doce não pelas bananas, mas pelo capricho das frutas carameladas cobertas de sorvete e calda de chocolate.
Mas voltando
a Maria. Para matar sua fome ou ansiedade estava sempre comendo uma banana. E
tentava disfarçar sua compulsão embora isto não passasse despercebido nem mesmo
para a mais distraída das crianças.
Um dia,
minha mãe conversava com a família ao redor da mesa da copa. No centro da mesa uma
estonteante fruteira com bananas protagonizando o arranjo das frutas torturava Maria que rondava a mesa a todo instante. A prosa
ia de vento em popa quando de repente Maria ergueu a voz e não resistindo ao apelo de tão belas bananas disse enfática:
-Ai, só de
raiva vou comer uma banana!
O riso foi
contido na hora, mas a frase tornou-se um bordão para todos da família diante de uma
perplexidade, da uma demonstração de contrariedade e indignação ou para fazer uma brincadeira.
Ah, só de raiva vou comer uma banana!
Não sei o
que aconteceu com Maria. Qual fim levou como dizem. Talvez ela não goste
mais de bananas ou quem sabe esteja nas redes sociais lendo este post e só de raiva comendo uma banana.