sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A calça justa





Todos conhecem a expressão "saia justa" e sabemos que situações constrangedoras e excêntricas são possíveis, mas o que dizer de uma "calça justa"? Ela também faz história. Vejamos!
Família tradicional mineira, pai advogado, mãe dona de casa, seis filhos sendo cinco mulheres.  As compras da casa mais pareciam por atacado do que a varejo e a mãe apelava para a praticidade usando sua incomum criatividade, Não era surpresa no Natal o bom velhinho deixar para as meninas bonecas iguais compradas numa promoção de uma cooperativa, afinal Papai Noel não queria brigas entre as irmãs dizia a mãe tentando amenizar o desapontamento das filhas. Outras coisas como material escolar e roupas tinham alguma variação quanto a cor e tamanho , mas sempre da mesma marca e modelo. O corte de cabelo das meninas em estilo "Melindrosa" era também marca registrada da prole feminina, embora a mais velha um dia aos prantos quis pular do alto da ponte do rio que cortava a cidade quando voltava do salão.
Era comum também receber vendedores em casa, trazendo todo tipo de mercadoria: perfumes, bijuterias e roupas. E um deles trouxe da Itália o famoso jeans Fiorucci . As meninas já eram em sua maioria universitárias, com sonhos de consumo diferentes, mas ele conseguiu vender para a família diversos tamanhos do então lançamento da marca italiana.
- Mãe, só tinha este modelo?
- Que bobagem! Calça "jeans" é tudo igual ! Muita sorte encontrar para todas.
Como uma das meninas estudava na Universidade Santa Úrsula no Rio de Janeiro e a distância da cidade mineira não permitia idas e vindas diárias a solução foi alugar um quarto no internato do Colégio Sion que era controlado por freiras. O pai assim ficou mais tranquilo, pois a filha estaria protegida por mãos santas naquela cidade tão sedutora para o pecado. Porém a garota tinha um namorado típico carioca morador de Ipanema. O rapaz era surfista, sarado e transgressor embora filho de um militar criado na rígida disciplina. Tanta rigidez e vigilância não superaram ao fogo que nos traz ao mundo. Eles driblavam a todos e sabiam como fazer para fazer. Os dias assim foram passando. Durante a semana estudos e aventuras. Nos fim de semana família e paz. 
Nos fins de semana ela trazia a roupa suja para ser lavada em casa e voltava portando junto aos mimos de mineiros( doces e queijos) toda a roupa lavada, passada e perfumada, cheirando carinho de mãe, mas um dia levou a calça Fiorucci da irmã mais magrinha que embora fosse muito organizada não percebeu o engano e daí a confusão em torno da calça justa.
A garota estava com a menstruação atrasada e quando vestiu a calça jeans da irmã não teve dúvida:
Meu Deus! Estou grávida mesmo!
O próximo fim de semana em família foi marcado por uma reunião solene . Ela e o namorado comunicaram a todos o que tinha acontecido. Enquanto o pai se refazia do susto a mãe, sempre muito a frente, já contabilizava mentalmente o número de convidados para a festa do casamento, a roupa de todos e até o enxovalzinho do bebê.
O desfecho foi naturalmente o primeiro casamento daquela família, em grande estilo com cerimônia religiosa e festa, mas no meio de tantos arranjos e preparativos ninguém se preocupou em confirmar a gravidez, nem ao menos o teste de farmácia foi feito. Quando os exames pré-nupcial e pré-natal foram realizados simultaneamente quase as vésperas do matrimônio é que a verdade veio a tona. Ela não estava grávida. Era apenas um problema hormonal muito comum em mulheres jovens. Mas a esta altura, com tudo acertado e com o fato da perda da virgindade da filha do advogado assim exposto de boca em boca na pequena cidade a melhor solução foi dar continuidade ao evento. Ela se casou com muita pompa e alegria. Desta vez as filhas escolheram os vestidos e não foram damas com roupas iguais.
 E todos foram felizes para sempre?  Bom , isto já é outra história...



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