segunda-feira, 4 de abril de 2016

Por que ele não ligou?


Uma amiga se encontrava naquela situação tão comum hoje em dia. Depois de um fim de semana romântico e sexual com um homem que antes do encontro fazia do telefone sua principal arma de sedução com ligações inesperadas e mensagens absolutamente únicas, viu seu celular emudecer,
Não foi difícil imaginar que ela não desgrudou do celular e que sua mente foi invadida por mil perguntas sem respostas. Na verdade havia se passado pouco tempo, mas cinco minutos no "day after"podem representar uma eternidade quando há a expectativa de pelo menos um "bom dia querida". De qualquer forma meu papel era de uma amiga que não deveria exasperá-la e sim confortá-la. Então me lembrei de uma história que me aconteceu.
Conheci na Internet um comissário de voo nacional que além de muito educado tinha uma foto muito linda no perfil. Conversa vai, conversa vem, trocamos fotos e telefone. A partir daí recebia telefonemas e mensagens todos os dias. Cada dia de um lugar diferente. De norte a sul do Brasil era gostoso receber seu carinho sem hora marcada, até mesmo de madrugada quando eu atendia suas chamadas com o coração acelerado por ser despertada de repente. Foram quase oito meses assim...
Eu estava esperando suas férias para  nos encontrarmos e quando elas chegaram vieram também imprevistos de todo tipo que  se colocaram no nosso caminho para impedir tudo. O fato é que vi o período acabando e nada do tão esperado encontro,Por coincidência nesta mesma época o contato foi rareando até que acabou sem aviso prévio. No último mês antes do seu desaparecimento havia deletado seu perfil nas redes sociais por clonagem,  havia também perdido o celular e trocado o número e era sempre ele que ligava com um número não identificado. Portanto não sabia como encontrá-lo nem mesmo no mundo virtual e sua ausência era tão misteriosa quanto sua presença meses antes. Porém não existem crimes sem vestígios e como dizia meu falecido pai contando casos de tribunais muitos criminosos são em sua maioria reincidentes. 
Alguns meses depois ele me ligou tentando reativar a antiga amizade,mas não conseguiu me enganar porque antes eu descobri quem ele era. Seu e-mail ficou gravado nos meus contatos e um dia por acaso permiti a utilização de uma ferramenta de um aplicativo para buscar amigos através do endereço eletrônico e apareceu no seu endereço de e-mail uma pessoa completamente diferente daquela que conheci anteriormente. Ele não era bonito, nem tinha aquele físico escultural e muito menos era  comissário de bordo. Pasmem! Ele era um advogado criminalista da região Norte. Depois pesquisei seu verdadeiro nome no Google e tinha muita informação dele lá.  Jamais seria possível encontrar o belo comissário pelo simples fato dele não existir, Meu comissário de voo era uma história inventada com fotos roubadas. Na verdade sempre estranhei o fato de inexistirem fotos dele  com o uniforme da empresa, sozinho ou em grupo , mas ele sempre me falava da rotina dos tripulantes com tanta riqueza de detalhes inclusive me adiantando notícias do meio muito antes de aparecerem na mídia, que era impossível duvidar que  ele não era sincero. Foi uma descoberta que me deixou sem chão, ou melhor, numa queda de  um avião sem paraquedas.
Daí meus questionamentos para minha amiga: O que é melhor? Não receber telefonemas de uma pessoa que você sabe que existe ou receber muitas ligações de uma pessoa que não existe? E o que é pior? Não saber o porquê da pessoa real ou saber o porquê da imaginária?

Um comentário:

  1. Bem, o que é pior? A rejeição machuca e muito. Mas nada que o que tempo não cure. Quando estamos "apaixonadas" idealizamos um grande amor, e como dizia Oscar Wilde: "um grande amor não existe porque quando chega a ser de fato real, deixa de ser grande amor". O gostoso é o chão onde a gente pisa, um amor construído sem grandes idealizações, é perguntar-se sempre: qual é o meu real?

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